sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Apple é a nova Microsoft?

Fonte (Belfiglio.net)

Interessante artigo do Mike Elgan (ComputerWorld), que nos força a pensar e analisar a Apple, concordo com muita coisa do artigo abaixo. :eek:

Após o corte de US$ 200 no preço do iPhone – e da revolta dos clientes :bomb: -, o articulista Mike Elgan analisa a posição atual da empresa fundada Steve Jobs.

Dez anos atrás, a Microsoft era a companhia que todos amavam odiar. E os maiores adversários da MS vilipendiavam a companhia chamando-a de um valentão ambicioso que usava o seu sistema operacional copiado de outras soluções, com caráter monopolista e estranho, para forçar a adoção aos usuários de software e coergir os parceiros a aceitarem acordos injustos de licenciamento.

Não olhe agora, mas o papel do maior valentão da indústria está sendo – cada vez mais – interpretado pela Apple, não pela Microsoft. A seguir, uma análise que mostra como a Apple tomou da MS a reputação pior de monopolista, dada a copiar outras soluções e valentona.

Apple, o monopolizador
A principal reclamação contra a Microsoft na década de 90 apontava que a participação de mercado do Windows gerava um poder de monopólio que foi abusado de diversas formas. Advogados gerais e outros defensores criticaram a instalação “conjunta” do navegador Internet Explorer, sob o argumento que o programa só era usado porque era parte do Windows.

As pessoas amam iPods (inclusive eu; minha família de quatro pessoas comprou 4 deles nos últimos anos). Mas os iPods vêm junto com o iTunes. Você quer comprar música da Apple? Adivinha? Você precisa instalar o iTunes. Você quer um celular da Apple com a AT&T? Claro, sem problema! Você precisa instalar o iTunes mesmo se quiser fazer apenas ligações telefônicas. Quer comprar ringtones para o seu iPhone? iTunes.

A Apple não só “combina” o iTunes com seus produtos, como força você a usá-los. Com o Internet Explorer, você poderia ao menos ignorar o IE e usar um concorrente. E isso acontece com os sistemas operacionais da Apple. Ou o Mac OS X não vem com o Safari? E o navegador não está também no iPhone?

E “combinar” funciona. Steve Jobs disse recentemente que a Apple distribuiu 600 milhões de iTunes até hoje. A absoluta maioria dessas cópias eram iTunes para o Windows. E a popularidade do iTunes no Windows não é motivada pela qualidade do software. O iTunes é o programa mais lento, mais sem graça e sem intuitividade rodando no meu sistema. Mas eu ainda preciso dele por amar meus iPods.

Com o Windows, você pode formatar o seu computador e instalar Linux ou outros sistemas operacionais compatíveis. Eu posso formatar meu iPod e instalar algo diferente? Posso desinstalar o iTunes mas continuar usando a loja virtual do iTunes e os meus iPods? A Apple fortemente desencoraja tudo isso, dizendo que o iPod, o software do iPod e o iTunes são três componentes do mesmo produto. Mas não é isso que a Microsoft diz sobre o Windows e o IE.

Image shared by ImageShare.de

Desculpa, papai
Veja esse cenário. Um cliente entra em uma loja local e quer comprar um presente de Natal para seu pai. A seção do iPod da Apple encobre todos os outros tocadores de MP3. O iPod é claramente o padrão confiável. O cliente compra um iPod Nano com vídeo ‘gordinho’.

O pai abre o presente e está empolgado. Ele segue as instruções, instala o iTunes e imediatamente compra várias dúzias de canções na loja do iTunes. Ele adora e passa a viver no mundo da música digital.

O único ponto negativo é que, quando está na academia, ele quer ouvir rádio FM. Seis meses depois, quando papai tem seu iPod roubado, ele quer comprar outro MP3 – desta vez, ele pede, com um rádio FM. Vários competidores têm a função, mas não os iPods. Quando ele vai escolher o aparelho substituto, ele descobre: nenhum das músicas e vídeos comprados – 300 músicas e 50 filmes – vai poder ser visto no outro aparelho. Ele comprou todo esse conteúdo que só funciona no iPod e no iTunes.

A Apple tem um cliente de iPod para o resto da vida. A Microsoft nunca teve esse tipo de poder monopolista. Desculpe, papai. Eu deveria ter comprado uma gravata.

Choque contínuo
Outra pista de que a companhia possui um poder monopolista está na sensação de choque contínuo. Quantas vezes você está em uma fila de um mega-complexo de cinema e percebe que a lata de refrigerante custa 10 reais enquanto no mercado ao lado custa menos de um quarto do preço? Mas – desculpem-nos – não é permitido comidas ou bebidas de fora do complexo. O cinema tem monopólio da venda de refrigerante e você paga o que eles pedirem.

O mesmo tipo de choque atingiu os entusiastas do iPhone quando Steve Jobs em pessoa anunciou, de cara lavada, que os ringtones para o aparelho vão custar o preço completo de uma música mais 99 centavos de dólar. O que? Uma música custa 99 centavos de dólar! Como a Apple pode cobrar a mesma quantia pelo direito de ouvir 30 segundos de uma música – o mesmo tempo que as ‘amostras grátis’ disponibilizadas no iTunes?

A Apple entende em plenitude o poder da definição do preço em monopólio. A empresa vendeu o iPhone de 8GB em dois preços em três meses: primeiro foi 599 dólares, agora é 399 dólares. Quando o iPhone era o único que tinha tela multitouch grande e uma experiência de iPod somado ao Wi-Fi – quando não havia alternativas a ele – o preço era 200 dólares mais alto.

Um analista estimou que o custo para construir um iPhone é 245,83 dólares. Não sei se é verdade, se sim, mais da metade do custo estava gerando lucro imediato. É a soda no cinema. Mas assim que a Apple introduziu uma alternativa para o iPhone – o iPod Touch – a Apple derrubou o preço em um terço.

Imagine se outra companhia oferecesse outro tocador de MP3 que usasse o OS X. O movimento obrigatório seria derrubar o preço abaixo dos 300 dólares. Mas não se anime: isso jamais acontecerá. A Apple tem o poder de impedir todos os outros fornecedores de usar seu software que roda nos tocadores de MP3 ou celulares digitais. A Microsoft poderia apenas sonhar com esse poder.

Apple, o copiador
Há dez anos, os adversários da Microsoft reclamavam que o Windows seguiu o Mac OS na interface gráfica para o usuário, copiando funções como as pastas, as lixeiras, janelas modeláveis e outros elementos. A reclamação foi repetida a cada nova versão do Windows – a Apple era inovadora no espaço de sistema operacional e chegou primeiro com funções importantes. A Microsoft apenas seguiu, duplicando as funções pioneiras da Apple, lucrando com os benefícios graças ao monopólio.

Mas quem é inovador hoje? O LG KE850 ganhou prêmios pela sua tela full-screen, touch-screen, e teclado on-screen antes mesmo de Jobs anunciar o iPhone.

A melhor coisa do iPhone e do iPod Touch – a interface multitouch – não é nova. Diversos laboratórios demonstraram soluções similares por mais de uma década e mesmo a Microsoft apresentou uma interface de usuário para 3G em maio, antes da Apple lançar o iPhone. A Microsoft vai vender seu ‘tabletop’, chamado Microsoft Surface, em novembro e a Apple provavelmente vai entrar nesse setor meses ou anos depois do movimento da MS.

E Wi-Fi em um MP3 player? Há! O criticado Zune da Microsoft já tem isso há um ano e o Sansa da SanDisk com Wi-Fi foi lançado em junho. A Apple até roubou o nome do iPod Touch, de acordo com HTC, que vende um celular inteligente com touch-screen chamado HTC Touch.

Não me entenda mal. Acho que a execução dessas funções pela Apple é muito melhor do que a dos concorrentes. E seria uma péssima decisão não investir no iPhone apenas porque os outros foram pioneiros. Não é disso que eu falo. Eu falo da Apple fazendo o que a Microsoft fez: dominando o mercado com funções que as outras companhias lançaram antes. Se é justo criticar a Microsoft pelo Windows, é justo criticar a Apple sobre o iPhone e o iPod Touch.

Apple, o valentão
A Microsoft era o maior valentão, pressionando todos e ditando as regras aos parceiros. A Microsoft perdeu o costume nessa técnica – a maior parte dos grandes revendedores agressivamente vende soluções Linux. Mesmo a Intel está fornecendo chips para Macs hoje em dia. A Microsoft ainda é lucrativa, mas perdeu controle – e perdeu a sua reputação como o valentão a quem ninguém podia dizer não.

Enquanto isso, Jobs tornou-se o homem mais temido em Hollywood, bradando a liderança da Apple nas vendas de mídia digitalmente. A Apple vendeu mais de 3 bilhões de canções e 95 milhões de shows televisivos via iTunes. No ritmo em que as vendas de CDs caem, quase um terço de todas as vendas de músicas são digitais. Como Jobs resumiu com eufemismo: “o iTunes está liderando o processo”.

Ainda que faltem detalhes, aparentemente a NBC queria mais ‘flexibilidade’ para cobrar preços mais altos para seus shows televisivos no iTunes. A Apple disse não e a NBC encerrou a parceria. A NBC agora planeja vender seus shows em outros lugares como em seu próprio web site e na Amazon.com. Previsão: A NBC vai voltar rastejando para a Apple, implorando para voltar a fazer negócios nos termos da Apple. Por quê? Porque o iTunes está se tornando cada vez mais o único veículo em que as companhias de mídia têm sucesso vendendo musicas e shows de TV digitalmente.

Jobs domina como Bill Gates nunca fez. Se você quer ter sucesso em música digital ou no negócio de download de conteúdo televisivo, você vai fazer as coisas do jeito dele.

Por que eu apoio a Apple
Depois de ler meus comentários, você pode se surpreender com minha declaração: Vim não para criticar a Apple, mas para apoiá-la.

Meu ponto não é falar que a má reputação de Apple é merecida, mas sim que a da Microsoft não era. Toda a discussão em torno do malvado monopolista, os processos legais e a postura do público direcionada durante tanto tempo para a Microsoft roubou energia de toda a indústria. O mercado, contudo, corrige essas questões. No caso do “monopólio” da Microsoft, aconteceu o Linux, Firefox e – agora – a Apple prova que os clientes sempre têm escolhas.

O mesmo vale para a Apple. Enquanto críticos, blogueiros, usuários, políticos, chefões de Hollywood, agentes de órgãos reguladores, advogados e competidores cada vez mais atacam a Apple, acusando-a de competição desleal e demandam ações legais ou regulamentares, vou defender a empresa, como defendi a Microsoft.

É divertido bater nas companhias grandes e poderosas que estão dominando os seus mercados. Mas, em uma última análise, a Apple ganhou seu poder e influencia, assim como a Microsoft fez.

A Apple é monopolista, copia funções de seus concorrentes e é um valentão? Sim, e merecidamente. Se alguém acha que o sucesso da Apple é um problema, bom, chamar os advogados não acabou com a Microsoft e também não vai funcionar para a Apple.

Nenhum comentário: